terça-feira, março 14, 2006

13/03/1906

Contigo aprendi a jogar à bisca e só tu conseguias ler as cartas que "escrevia" quando aínda nem sabia contar até 100.
É a tua voz autoritária a dizer-me: "azul e verde, escarro na parede!" que ouço quando vejo aquelas duas cores juntas.
É do teu cólo, do teu peito gigante, das tuas orelhas enormes (as maiores que já vi!), das tuas sobrancelhas farfalhudas que tão pacientemente deixavas que as prendesse com "ganchinhos para não irem p'rós olhos", que me lembro quando me sento numa cadeira grande.
Das "estrunfinas", preciosamente guardadas na gaveta do consultório para nos dares aos fins de semana quando íamos visitar-te, da imponência da tua pessoa e do respeito (e até medo) que os outros sentiam por ti, não me posso esquecer nunca.
Os cigarros apagados a meio, a boquilha, a tua bomba de oxigénio que te acudia imediatamente a seguir a fumares outro cigarro... fazem todos parte da minha vida, mesmo depois de deixar de te ver.
Ainda hoje tento imitar som único que libertavas enquanto dormias... ou quando não te davamos a devida atenção; ainda hoje gozo com esse som de mimo.
Contavas-me as tuas aventuras romanceadas de quando vivias na Índia. Não percebia metade e não ouvia a outra metade: acabava por adormecer, embalada pela tua voz reconfortante de quem se portou mal a vida toda e no fim a tentou remediar.
E podiamos ficar aqui dias inteiros a falar sobre tantos outros momentos que, mesmo que quisesse, não conseguiria esquecer.
Lembro-me como se fosse ontem da ultima vez que te vi. Lembro-me do beijo na testa, da tua expressão a olhar para mim e do aperto no coração que senti.
Nada o indicava, não havia razão alguma para tal, mas cá dentro soube que aquela seria a ultima vez que as tuas mãos enormes agarravam as minhas.
Nem uma lágrima caiu aquando da notícia. Não houve surpresa alguma aqui dentro; desmanchou-se apenas aquela esperança de estar errada.
Os anos passaram e as dores desvaneceram, dando lugar às recordações divertidas das tuas manias e caprichos, das lendas que criei à tua volta e da inspiração que aínda hoje me dás.
Lembro-me que um dos meus desejos de pequena era o de preparar-te uma grande festa dos 100 anos...
A festa é complicada de realizar, mas do bolo, porque a gulodice é um mal de família, não escapas tu! ;)

6 Cachimbos Arrebitados:

Blogger MicasMariana said...

Com um nó na garganta te deixo um grande abraço e um cafuné de umas maos pequeninas...
AMOR, AMOR, AMOR é bonito conseguir amar, sempre e para sempre, sem que qualquer barreira se nos impeça de seguir a amar

9:47 da manhã  
Blogger Mónica Lice said...

Parabéns ao destinatário do texto!:))

10:54 da manhã  
Blogger Bárbara said...

Ai, uma mulher sensível como eu não resiste a um texto destes!! Já cá canta a lágrima no olho!!!
Que bonito!!!
Mais uma vez:

Brava, bambina Pipas

:) :) :)

Beijos muitos

1:22 da tarde  
Blogger Folha de Chá said...

Que bonita homenagem. :) Parabéns pelos 100 anos. :)

3:12 da tarde  
Blogger Gelly said...

Que bonito Pipas... :) ... snif.. snif... Parabéns ao sr que colocou o "grande" das suas mãos nos teus lábios, nesse sorriso que te caracteriza! :P

4:58 da tarde  
Blogger Slipper said...

onde esta o meu comment????? eu deixei aqui um comment!! Buáaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
;(
Esta lindo Pipas, sem palavras para descrever tal homenagem! Mais uma vez transpareces a tua beleza interior!

Beijussssssssssss

9:31 da tarde  

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