Sentido viciante

Sou completamente viciada no tacto!

Sempre fui e cada vez sou mais!

Adoro sentir as diferentes texturas e temperaturas dos objectos com os quais me cruzo; das várias pessoas que atravessam os meus caminhos.

Não consigo resistir a encostar as bochechas em azulejos frios que rápidamente aquecem, enfiar as mãos na massa do pão e apertá-la até os dedos tocarem nas palmas da mão; passar as unhas em tecidos de bombazine, deslizar as costas da mão num braço de pedaços meus.

Gosto de sentir a areia nos pés....

Tenho "pés de princesa" e sinto variações de sensações impressionantes nas diferentes praias que disfruto.

Às vezes a areia massaja-me os pés, outras vezes faz-me cócegas, e existem aínda aqueles areais que me magoam de tal forma que tenho de calçar uns chinelos de modo a poder passear em cima deles.

Sou viciada no tacto!

Sou viciada no contacto!

E à medida que me vou libertando dos meus medos e preconceitos, aprendo a disfrutar ainda mais do prazer e da terapia que é o toque humano!

Sou viciada em corpos.... na PELE!

A pele fria, a pele macia, a pele áspera, a pele quente, velha, nova, imaculada, calejada....

Toda a pele tem uma história a ela agarrada e vem sempre à superfície quando lhe toco.

É flagrante!

Tocar um desconhecido, a mulher da frutaria, o homem da padaria, um velho que fala connosco na paragem do autocarro, uma pessoa que acabamos de conhecer.... O toque no braço, o toque na mão. O confronto entre a temperatura daquele corpo e a minha... E o curioso que é ver a reacção alheia ao meu simples e descomprometido toque. As energias que se sentem naquele momento.

A surpresa e a tranquilidade que a outra pele sente aquando do meu toque, é por mim absorvida e vicia-me mais uma vez.

Por vezes, posso gozar de um corpo inteiro que não o meu. E aí gosto de enterrar a minha pele na outra. Sentir o outro corpo na plenitude.

Colar as minhas bochechas nas "tuas", os meus dedos no "teu" peito, as minhas ancas e barriga coladas às "tuas", os meus pés emaranhados nos "teus", os meus lábios confundidos com os "teus".

Nesses momentos, numa sensação muito ténue, consigo perceber um bocadinho o que o outro sente e entro naquele mundo de sensações tão próximo, mas que não é o meu.

Sou viciada no tacto.

Sinto que cada vez que o faço, me aproximo de quem toco. E quem é tocado segue o seu caminho mais feliz e sereno.

Sente-se humano e desejado, como todos nós queremos ser!

Quanto aos objectos que apalpo, mexo e sinto.... isso, é puro deleite para a minha pessoa, puro vício reconfortante, animalesco, que me faz lembrar que sou também natureza ;)

Sentido viciante, este do tacto...