quinta-feira, novembro 03, 2005

Patos e ratos

Em tempos que já lá vão, no Reino da Serenidade, os Deuses presentearam um mísero Pato com uma espiral.

A sua vida há muito que estava perdida e sombria; não havia ponta de luz ou côr que conseguisse penetrar naquelas penas e o Pato caminhava a olhar para o chão na esperança de encontrar...
Ora uma bela tarde, um pequeno Rato, de olhos grandes e bigodes rebuscados, passeava naquele reino desconhecido e aproximou-se de um dos lagos que o Pato usava frequentemente para pensar... Também ele tinha perdido algo.... a esperança! Mas continuava a brilhar e a espalhar luz por onde passasse (sabem, a vida nos esgotos é muito escura e a luz nunca pode desaparecer).

E.....
CABUM!!!!!!!!
O Pato e o Rato embateram um no outro. Naquele exacto momento, os Deuses lançaram sobre o Pato a espiral. Que viria a transformar também a vida do Rato....

Desde então, os dois animalecos passaram a completar-se: um tinha a luz, o outro a esperança. Viviam sorridentes e brilhantes, espalhando serenidade nos condados por onde passavam.
Certo dia, o Pato decidiu que queria cravar a espiral que os Deuses lhe tinham enviado, numa asa (como se faz ao gado...). Assim, poderia levá-la para todo o lado, sem ter preocupações de transporte. Mas como era um mariquinhas, teve de pedir ajuda a uma velhinha que tinha por hábito marcar o gado das populações vizinhas... Infelizmente a senhora era amargurada pela vida e decidiu por um fim àquela complementaridade toda... cravando a espiral INVERTIDA no Pato.
E a partir desse dia, lentamente, a vida daqueles dois começou a mudar... aproximando-se cada vez mais do que tinha sido um dia. Até que, chegou a um fim, e a cumplicidade deu o ultimo respiro.
O Pato e o Rato seguiram caminhos separados e nunca mais voltaram a ver-se...

Mas a velha invejosa, apesar da mágoa que deixou nos corações dos animalecos, esqueceu-se de lhes tirar as memórias.... E sem darem por isso, deixaram o Pato com um pouco mais de luz, e o Rato com um pouco de esperança.... Ambos perceberam, que a plenitude é possivel e as expectativas não servem de nada.
Começaram a não esperar nem a ansiar... Aproveitavam o que a vida lhes oferecia a cada passo que davam.... tudo ganhou um sabor novo e diferente. Porque tudo era simples e descomprometido.
Os tempos passaram e a nostalgia do coração daqueles dois voou. Sabem o que viveram, e têm a certeza que o amanhã será melhor. Apesar da perda daquela vida, a estória ficou gravada nos seus pequenos, peludos e penudos corpos, transformando-os para todo o sempre.
Não ansiam por nada, não esperam por nada. Absorvem intensamente tudo que lhes é oferecido desde o momento em que acordam até ao que adormecem (sem nunca esquecerem os sonhos que passam durante o sono).

Vivem no meio da gargalhada iluminada.
E todos os dias recordam a frase que um sábio um dia lhes disse: a história, repete-se... ;)

3 Cachimbos Arrebitados:

Blogger Bárbara said...

Mas que bela história!
E tu ainda duvidas do teu talento para a escrita...
tsc, tsc, tsc
No entanto, estou para saber o que lhe deu origem...
É que este umbigo sabe muito bem ler nas entrelinhas! ;)

Beijos luxuosos

4:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

5 estrelas!!!

mm mt boa...sem palavras, mas com vontade de as dizer...

beijos

10:58 da tarde  
Blogger Gelly said...

Eu nem por isso, confesso.
Baralhei-me nestas entrelinhas.
A verdade é que mesmo a patinar nas mensagens implíctas, gostei muito do texto. Mais uma iguaria da nossa Pipas! Delicioso!"!! nhamiiiiiiiii

6:29 da tarde  

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