terça-feira, agosto 15, 2006

Ciclo da água

Teimosia, persistência, esforço!

Desde o primeiro dia que foi assim.

No inicio foi o desafio, a curiosidade; a busca de afecto de quem vivia cansado da solidão. O desejo ardente de um pouco de calor, um pouco de primazia e atenção, quando os seus dias eram preenchidos pelos tempos livres daqueles que a rodeavam.
A magia que criou, fruto da imaginação galopante de quem ainda sonha viver no mundo do romantismo exacerbado e da inevitável morte por amor, - eternamente linda e embriagante - fê-la viver cada dia como se andasse sobre nuvens. De olhos discretamente fechados, acreditava que aquilo era a realidade construida pelos dois. Algo tranquilo e imutavel, em nada semelhante a uma nuvem: o eterno resultado do ciclo da água.
Acreditava que os dias solitários estavam a chegar ao fim e que a aventura promissora finalmente se tinha cruzado com ela. E realmente era assim que tudo se passava; Aos seus olhos tudo era luz, cor e purpurina.
Vivia de olhos fechados e não sabia. Tacteava aquela outra parte e nem dava conta que via aquilo que o seu coração sonhava ter.
Os tufões apareciam e ela abraçava-os com paixão.
- Fazem parte da aventura e da próxima vez serão menores. Afinal de contas, também já os tive e sei que a força dos abraços os consegue transformar em ventinhos bons.... - pensava ela no meio da sua cegueira.

A persitencia fê-la continuar. E o esforço fê-la adaptar os sonhos de sempre à realidade que não queria ver.
De olhos fechados caminhava sorridente e saltitante. Os momentos bons, faziam brilhar o seu mundo e os tufões que a atiravam por terra, eram esquecidos a cada vez que aqueles braços suaves a envolviam.
- Para a próxima será menor; Ou se calhar nem chega a haver próxima e tudo será ainda melhor! - voltava a sonhar enquanto disfrutava do aconchego temporário daqueles membros que a abraçavam.

A persistência deu lugar à teimosia. E os olhos continuavam fechados.
Os tufões eram cada vez mais intensos e a poeira feria-lhe os olhos. As lágrimas escorriam-lhe com afinco, numa tentativa de alivio daquela dor aguda que não conseguia controlar. Os seus braços já não tinham muita mais força para abraçar e a cor em que vivia começava a desbotar.... Os olhos principiavam a abrir e a aventura a desvanecer.

Cansada de se adaptar, moida de tanto lutar, começa a acreditar que viviam mesmo nas nuvens e a fase da chuva aproxima-se rapidamente. O ciclo chega ao fim e há que ter coragem para o aceitar.
Cansada de dar, na esperança de aínda vir a receber, arregala bem os olhos e sorri enquanto observa a nuvem a transformar-se em gotinhas de chuva, que a seu tempo voltarão a ser nuvens outra vez... :)

amor, amor, amor

2 Cachimbos Arrebitados:

Anonymous Anónimo said...

ola, afinal descubri gostei. agora so mando beijos. tibi

11:03 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

precioso, poetisa!!

5:54 da tarde  

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